O dia que sai a lista de bolsas aprovadas de Iniciação Científica da universidade é um dos mais felizes. Já há alguns anos que eu abro o documento nesse dia e vou vendo todo mundo que é do meu instituto. Algumas pessoas foram meus alunos, alguns não, mas é uma felicidade enorme mesmo.
Já deve ter acontecido com todo mundo uma coisa realmente incrível e que lava a alma: de descobrir, com surpresa, que algo muito bacana existe. O inesperado mesmo! A gente vive em uma lógica tão inescapável do serviço, que é fácil esquecer que existem políticas sociais desse tipo. Porque é algo acadêmico, mas é política social. E não tem nada a ver com caridade, mesmo sendo público e gratuito. É o que impulsiona a ciência e a cidadania em um país. É preciso esquecer de vez em quando as metáforas produtivistas, mas vai lá: nunca um investimento tão pequeno produziu tanto.
Porque são bolsas muito humildes, insuficientes na verdade. Mas as pessoas ficam felizes demais - e têm um impacto enorme sobre suas vidas! Não canso de me emocionar vendo isso no que meus orientandos falam e demonstram.
Isso é importantíssimo para a grande maioria dos estudantes que são contemplados com essa bolsa. Financeiramente, claro, para a maioria. Mas há algo ainda mais fundamental, ainda mais fascinante, ao mesmo tempo que intangível: a oportunidade de fazer a primeira pesquisa. A primeira pesquisa, provavelmente, é uma das primeiras coisas autorais que fazemos academicamente. E isso não pode ser subestimado.
Eu adoro fazer pesquisa. Mas a primeira tem um lugarzinho especial. Lembro daquela sensação de descoberta, de começar a entender alguma coisa, de produzir uma interpretação sobre aquilo que, por mais que você tenha ajuda de colegas, orientadores ou orientadoras, é seu e que mais ninguém fez daquela maneira. É isso arte? Talvez sim. Gosto de acreditar que sim, pelo menos em parte, essa que eu estou dizendo que é tão bonita. É difícil precisar o que isso faz por uma pessoa, mas sei que é grande.
Não deixo de me surpreender com essas coisas. Ainda mais porque estamos acostumados com a lógica do "pago", do "serviço". Nunca fiz IC. Comecei no mestrado mesmo. Mas lembro até hoje quando a secretária da pós ligou em casa e me disse que eu teria uma bolsa de estudos. Achei aquilo tão surreal que por pouco eu fico sem, porque eu não sabia que era tudo bem aceitar.
Minha família tem origens muito humildes. Certamente por isso fizeram questão de me proporcionar estudo. Infelizmente, na minha época, um bom estudo era sinônimo de escola particular - algo que meus pais não tiveram, mas achavam que valia a pena proporcionar aos filhos. Minha formação começou aí, mas ao mesmo tempo eu nunca deixei de me espantar de fato com o que há de público e gratuito - e o bem que isso faz. Essas oportunidades, para muita gente, começam na universidade pública. E, para muitas dessas pessoas, são coisas como uma bolsa de IC para pesquisa que viabilizam - em todos os sentidos - a educação e a formação para suas vidas. Para mim, que estou há mais de 20 anos em uma universidade dessas, é certamente minha vida. E, nessas horas, essa surpresa, do algo bonito que existe e merece ser defendido, faz um bem tremendo.
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Um comentário:
Amei, Chris! Que bom festejar as pequenas e grandes alegrias. Adorei a descrição da primeira pesquisa e da ideia de aquilo ser seu, da forma mais íntima possível. Parabéns proa seua novos bolsistas, uns sortudos que talvez não saibam a sorte que têm: o orientador brilhante, humano e sensível que você é.
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