Tenho tentado não deixar que tudo de ruim que acontece atualmente me atinja muito.
Não sei se tenho uma estratégia pra isso, exatamente. Por um lado eu tento não ficar vendo notícias toda a hora, mas por outro me sinto mal se não fico a par - e, confesso, há um lado meio masoquista, meio estranho, que me faz voltar, fascinado com o horror, para os portais de notícias. Tenho também tentado não exercitar um lado revanchista, aquele de apontar o dedo e atribuir culpa para lá e para cá, ratatatá. Mas começo a tentar achar onde está o limite da compreensão e do diálogo - acho que é uma dúvida legítima, quando alguém defende um torturador e tem ressonância com gente que aproveita e destila todo o rancor.
Para quem é professor, é uma angústia e tanto - mas que me faz ter ainda mais convicção da importância da sala de aula.
Mas hoje foi um dia em que não consegui não me sentir desanimado, triste, com medo do que ainda vem por aí.
Mas então as minhas amizades, sempre elas, me tiraram do buraco!
O amigo querido - que também é meu aluno - que não tem bolsa, mas fez questão de me pagar um café nessa manhã fria. Outra aluna, que ficou feliz porque consegui pra ela um estágio voluntário, olha só puxa vida o que pode ser alegria também. A antiga professora, agora minha colega e amiga, que me escreveu, feliz, falando que se deu uns dias no Rio pra fazer o que a gente gosta: pesquisar. O amigo que escreveu convidando para o aniversário dele amanhã (ufa, quero aproveitar muito esses momentos de alegria da conversa e da risada). O almoço com outra minha amiga colega de departamento, que anda tão corrida quanto, mas que também faz questão de ter uns minutinhos pra sentar com alguém e bater um papo (ainda que tenha sido inevitável falar de trabalho... argh). Até a fapesp, que hoje deu um tapa com luva de pelica no governador para nos lavar a alma, coitados de nós cientistas sociais "inúteis", e que mandou avisar que concedeu duas bolsas para os alunos do meu projeto (nada prático, ó céus). A Dani, que falou que estava cansadíssima, que não sabia como ia ter forças pra preparar a aula de sociologia amanhã, mas que estava feliz porque a aula de hoje foi boa e as pessoas gostaram. E, agora, outra amiga, também professora, a sempre inspiradora (how do you do it?) Kau, que me mandou os roteiros das aulas que está dando de antropologia - e me fez ter um sorriso enorme no rosto por alguns minutos, lendo as lindas ideias sobre etnografia, sobre cadernos de campo, sobre ver e conhecer (ah, essa antropologia...), ficar viajando nos desenhos e ler as divertidíssimas auto-avaliações.
Tudo isso me fez esquecer um pouco dos problemas todos e ver que, com as amizades, não se está só.
Ainda que me sinta cada vez mais estranhando todo o resto.
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Um comentário:
ah, Chris, que lindo! amei estar no meio desse seu coração enorme mas tão tão especial! todo o amor do mundo às verdadeiras amizades ♥ ♥
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