Eu acreditava que depois das últimas semanas, dormindo 3, 4 horas, ou simplesmente varando madrugadas afora, eu iria apagar por uma semana, depois de entregar o texto. Mas acho que o corpo realmente desenvolve costumes (acordar cedo, fumar na privada, tomar um café no meio da tarde). Continuo dormindo 3, 4 horas, mesmo não precisando.
Tudo bem, pelo menos agora não é por nervosismo ou por falta de tempo.
Este finalzinho foi realmente muito difícil. Por diversas vezes eu queria deixar do jeito que estava (mas admito que muita coisa podia ser melhorada). Fiz o máximo que pude, só espero que seja o suficiente.
Murphy me fodeu bonito também. Mas acho que era o jeito de realmente perceber que estava acabando. Entre não conseguir imprimir, gastar muito mais do que queria com os exemplares da tese, e ter o celular roubado (ou "entre mortos e feridos"...), deu tudo certo.
Depois de um bom tempo longe daqui, espero que tenha agora mais vontade de não deixar tudo às moscas.
Então adianto uma dica cinematográfica.
Se trata de um documentário editado pelo Banksy (sim, o grafiteiro preferido do grande público, mas odiado por muitos de seus colegas), baseado no material de Thierry Guetta, um francês bizarro, que também se tornou um artista de rua bem sucedido (e também acabou odiado por isso), e que registrou a cena grafiteira de Los Angeles.
Exit Through the Gift Shop foi incluído no repertório do Festival de Berlin e também no do Sundance Festival deste ano. A idéia de registar uma forma de arte tão perecível é bastante interessante. Mas acho que o melhor mesmo são as questões que podem ser debatidas através do conteúdo do documentário, e mesmo do trabalho em si.
Porque muita gente já começou a torcer o nariz para o Banksy (seria inveja? Em boa parte das críticas?), que apesar de continuar criando uns stencils muito perspicazes, nos recantos mais inusitados de Londres e adjacências (que já não são tão adjacentes assim), agora vende quadros nas conceituadas galerias e casas de leilão britânicas. Na verdade, alguns de seus maiores críticos são seus colegas grafiteiros, que não acreditam que o tipo de elaboração feita por Banksy é tão original assim. Ou, ainda, que ele se vendeu na primeira oportunidade de transformar a arte da contestação em algo comercial.
Eu, pessoalmente, acho que nada do que ele fez, ao vender por centenas de milhares de libras alguns de seus trabalhos para artistas de Hollywood e gente com muito dinheiro e com gosto duvidoso (para dizer o mínimo), contradiz a natureza da crítica ácida e satírica de sua proposta. A tática de colocar material inteligente, mas completamente ridículo, nas exposições da "arte consagrada", é um exemplo. É algo como "vocês acham que sabem sobre arte? Primeiro, não conseguem separar o trabalho dos competentes da minha merda. Segundo, o trabalho dos competentes não é tão competente assim". No fundo, ele chama atenção, ao equalizar as formas de arte (por baixo, devo dizer), para uma questão que há muito é debatida pelos historiadores de arte: boa parte da moral disto tudo se refere à forma como a arte é vendida, adornada e apresentada. E vender suas porcarias por milhares de libras é um tapa na face de quem acredita que consegue avaliar a arte por si só.
E, convenhamos, se mesmo tudo o que eu disse aqui acabar sendo um monte de abobrinhas, ainda resta um ponto: qual seria o grafiteiro, por mais underground que seja, que não aceitaria um troco super-valorizado por sua arte?
Assistir o documentário em um cinema de porão no sul de Londres (como de fato aconteceu) talvez faça mais sentido que assistir no glamour de Berlin, ou mesmo no já não tão alternativo Sundance. Mas, ao mesmo tempo, talvez sejam nestes lugares, ou em um confortável dvd, que o filme mais se realize.
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