Aqui não é a Dinamarca, mas há algo de podre no reino. Hummm, apesar que os pubs ficaram de fato muito mais limpos. Hummm, entretanto, ao mesmo tempo e não obstante, é fato comprovado pela associação mundial de estudos do cheiro e do odor que o cigarro esconde os outros fedores do mundo. Estamos em uma clássica e fascinante situação sabiamente conhecida nos meios intelectuais e científicos como "sinuca de bico"? Ou estou divagando e falando abobrinhas? Bite me.
Pois é, uma amiga querida lembrou da proibição do fumo aqui. Digo a vocês que isso tem sido uma provação, de maneiras que não esperava.
O começo da tragédia: cigarro aqui é caríssimo! Você que reclama do preço do maço em terras brasilis tenha uma informação em mente na próxima vez que for na sua padoca local e tente relativizar: um box aqui custa quase 6 libras. 20 e tantos reais, dependendo da cotação do dia. E nem vêm 20 cigarros dentro!
Aqui fumos são caros. Então me acostumei a fumar só quando estou pra pular em cima de alguém.
Mais pro começo do ano meu amigo magiar, vindo da second-class Europe - expressão cunhada pelo mesmo - deixou um maço de drina que, segundo ele, é considerado cigarro tosco até mesmo pelos sérvios - e que hoje em dia está fadado à extinção. Mas eu adoro! Esse fica para as ocasiões especiais.
No mais, Benson & Hedges. Estou acostumado e uso a tática do arranca-pulmão para saciar o vício nicotilesco por períodos maiores, mas a Dani provou e disse que é forte demais. Ela vem de terras mais civilizadas e deve saber do que está falando - eu já não sei mais: até me acostumei com volante na direita! Mas sei lá, deve ser mesmo, porque Malboro, por exemplo, é fraquinho agora.
Mas voltando à vaca fria. O fato do café aqui ser maravilhoso trouxe mais um fator à equação. E ajudou a substituir uma coisa pela outra (comecei a tomar café aos jarros), sem no entanto resolver alguma coisa! E só percebi isso outro dia, bem como que essa tal de tranferência de vícios existe mesmo! E também como muito mais - o que no meu caso não é exatamente um problema.
Agora, isso de proibirem de fumar dentro dos lugares - leia-se pubs - deixa qualquer com pensamentos homicidas. Ainda não acho possível beber uma cerveja e não fumar - são causa e consequência, yin e yang da vida ocidental moderna, qualquer que seja a ordem dos fatores. Por enquanto dá pra sair na calçada quando a coisa aperta (por qual outro motivo passariam essa lei agora?). Mas e quando chegar o inverno? Vão ter que distribuir chicletinhos, adesivinhos ou então chocolate pra galera, porque senão os pubs vão à falência! Ah sim, isso se o pub tiver licença para operar na calçada. E se você não estiver num ponto de ônibus, cujo tetinho mínimo já serve para enquadrar a construção dedicada à espera da classe dos destituídos de veículos de locomoção próprios na categoria de "lugar público delimitado" (e como lembrou a Ju, arruinando com a mandinga de acender um cigarrinho para apressar o busão). Se, se, se.
Os donos de bares árabes, que oferecem narguilé - ou shisha para os europeurizados - aos seus clientes tentaram arranjar uma exceção argumentando que o fumo na mangueira é parte crucial na cultura mulçumana (aqui essas coisas geralmente dão resultado. É só você dizer que se sente cerceado no seu direito de livre expressão religiosa ou cultural que tudo se resolve e arranjam um nicho ou um santuário pra você). Mas não dessa vez. Os MPs não retrocedem nem um centímetro, dizendo que isso abriria precedente para outros requerentes - sei lá, os cubanos podem dizer o mesmo do charuto; ou os franceses poderiam dizer que se sentem menos franceses se não estão com um Gauloise na boca...
Multas altíssimas para quem for pego com a boca na botija - ou melhor, no cigarro - e até ameaças de prisão (tudo aqui pode dar prisão, até mesmo viajar sem crédito no seu oyster card no tube).
Mas já vi, nessa primeira semana em que a lei está em vigor, gente ostensivamente desafiando o grande irmão. Acendendo um cigarro na frente do bar e ficar dançando autisticamente, de cigarro e pint em punhos ou, até mesmo num caso, uns cigarrinhos de canabis. Porque inglês, quando bebe - o que não é difícil - manda o über ich para o beleléu e dificilmente liga para coisas que no fundo acha que interferem em seu modo de existência normal ou no seu direito adquirido de ser um inglês por completo - como seus pais ensinaram e o que consideram que fez este país grande (como jornadas de trabalho de 8 horas, direito à greve ou dominar a difícil arte de ficar na fila para tudo; e sim, já ouvi argumentos exatamente nestes termos; e sim, brasileiros que dão uma de joão-sem-braço e furam fila não são apreciados).
Enquanto isso discussões acaloradas surgem aqui e acolá sobre direito de fumar versus direito de quem não quer ser fumante passivo, versus direito de soberania sobre o próprio corpo e se o Estado tem o dever ou não de tomar certas decisões na vida dos cidadãos - o que muito me lembra a discussão que a Dani analisa: sobre se anoréxicas ou bulímicas que dizem fazer o que fazem por escolha própria, podem ser consideradas, ao inverso, doentes, e então tratadas à sua revelia.
Serão os fumantes as novas histéricas deste milênio? Afinal, fui informado, alguns médicos já estão receitando anti-depressivos pesados para quem quer deixar a vida da fumaça. Quem sabe uma lobotomia básica não resolva o problema?
O rombo bilionário nos sistemas de saúde mundiais que vêm dos problemas relacionados à obesidade ou males causados pelo fumo é suficiente para a adoção de uma medida mais intervencionista? Você fuma por quê gosta e quer ou são as substâncias gostosinhas e prazerosas que dopam sua massa encefálica que te fazem achar isso?
Eu sinceramente não sei. Às vezes acho que somos mais ratinhos do que gostaríamos de admitir - um bando de maria-vai-com-as-outras, em que essas "outras" são sujeitas indeterminadas... Mas que é um pé no saco neguinho dizer o que você tem que fazer, isso é.
Aguardem as cenas do próximo capítulo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário