quarta-feira, outubro 04, 2006

Fiat Lux

Às vezes aparecem umas notícias que me dão impressão de que alguém quer me enganar, ou então alguém é muito preguiçoso para explicar direito, ou então tudo é tão complicado que realmente não dá para explicar num simples artigo de jornal e a saída é dar uma de malandro.

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Deu outro dia que dois cientistas americanos ganharam o Nobel de física por uma pesquisa que ajuda a corroborar a teoria do big bang, o enigmático início do universo (surgiu de onde; expande de onde, para onde, em quê, afinal de contas?).
Eles usaram um satélite para avaliar a "radiação cósmica de fundo", que entendi ser o rastro ou o eco da grande explosão primordial, de maneira a confirmar a teoria da radiação de corpo escuro (?!), de forma a analisar a temperatura da fonte. No início tudo era muito quente; com o universo se expandindo, as temperaturas foram baixando. No fundo é simples.
O trabalho dos americanos, além de fornecer elementos que fortalecem tal teoria - já antiga - também mostraram que esta temperatura varia. Bônus para o páreo na eleição do prêmio.
Faz sentido? Claro, tirando alguns conceitos quase esotéricos, faz muito sentido. Incompreensível, mas plausível. Verossímil, digamos assim.
Só que mesmo uma matéria que tente explicar a pesquisa, nada mais pode ser do que um resumo muito tosco, um malabarismo semântico para fazer o leitor dizer "hum, claro, muito espertos esses físicos". Pronto, eles ganham 1 milhão de euros, vão conhecer a Escandinávia e terão prestígio garantido pro resto da vida.
Claro, deve haver uma comissão-Nobel que avalie de maneira muito mais eficiente o mérito da pesquisa. Não é qualquer um que ganha um Nobel (menos o da paz; esse sim já foi pra muita gente suspeita). Mas se é necessário alguma legitimação para a massa (que no fundo tem um interesse muito superficial pelas glórias da elite científica mundial), um argumento que diz que vai explicar-mas-não-explica, é o suficiente. É o que Kant fez no prefácio da Crítica da Razão Pura: uma maracutaia para dizer ao leitor qual sua tese, que no fundo só é provada ao longo da obra - se bem me lembro de algo que o Nobre disse. X é assim porque assim é X.
O que falar da manchete que me chamou atenção ao fato, ao informar que dois americanos ganharam o prêmio Nobel por ajudar a comprovar a teoria do big bang? "Muito bem, mas como?", se pergunta automaticamente a pessoa que vê a chamada da notícia. Medindo a temperatura do cosmos. Claro... simples...
Tudo me parece muito parecido com os mecanismos de funcionamento de qualquer cosmologia, do tipo "no princípio criou Deus o céu e a terra" e outras mais.

2 comentários:

Skywalker disse...

No fundo tudo se resume ao fato de precisarem avisar que alguém, que não somos nós, ganhou o Nobel. Acho que explicar a pesquisa fica para um outro Nobel... O que significa que isso não passa de política, ou seja, não se trata de abrir um canal para discutir as idéias em questão, mas apenas para popularizar e tornar mundialmente famosos uns tiozinhos que até então viviam enfurnados num laboratório do primeiro mundo... Esse é o problema com a chamada "divulgação científica" ou jornalismo científico, que de científico não tem nada, já que não explica nada. Pelo menos nesses casos mais extremos como o Nobel...

Anônimo disse...

Isso de antimatéria, fisica quântica, o diabo a quatro, até hoje não entra na minha cabeça empírica demais para esse mundo pós-muderrrno!!!