Mas fiquei muito tempo sem ter tempo (?!) (ou ânimo) para ver sua cara-metade: Planet Terror.
Até hoje.
Acabei assistindo meio sem querer, na tv. O filme é um absurdo. Totalmente sem noção, tosco, absolutamente degradante, de mau gosto e, como já vinha suspeitando desde Death Proof, misógino (ainda que, para crédito de ambos Tarantino e Rodriguez, é uma misoginia totalmente consciente, proposital e, talvez, paradoxalmente anti-machista pela lógica do exagero completo; preciso pensar mais a respeito).
Os personagens são completamente ridicularizados, assim como a trama e, principalmente, o espectador. Não há como não ter raiva do Robert Rodriguez por ganhar uma fortuna para se divertir fazendo um lixo que saiu da cabeça dele. Algo como chocar por chocar, para ver o até onde as pessoas suportam suas babaquices para provar como elas são imbecis por valorizarem o que não merece ser valorizado. Ou algo como essas performances, que eu odeio, de um pseudo niilismo, como jogar absorventes usados na platéia em nome da arte (mas, pensando bem, de novo, levando ao extremo a paródia, ou pior, a falta de talento, talvez o efeito seja de fato algo sublime; como a coragem de realmente passar do limite pudesse redimir o feito mais cretino - estou ficando sem adjetivos).
Além disso tudo, o filme não tem pretensões de agradar. E você não tem empatia com nada nem ninguém que aparece na tela. Muito pelo contrário. Nenhum remorso pelo órfão bonitinho que se explode.
Bem, já deu para perceber que eu adorei o filme, não?!
Foi uma das coisas mais empolgantes que eu vi em muito tempo! Fiquei literalmente na ponta do sofá, assistindo de olhos vidrados e vibrando com cada detalhe bizarro que atentava contra minha dignidade.
Nada no filme não é cuidadosamente planejado para dar um chute no saco do que você esperaria ser o esperado (?! - sim, estou ciente do "esperar o esperado" e do "sem tempo de ter tempo"). Bem, nem tudo. Como um amigo meu diz, violência e sexo são inversamente proporcionais no cinema americano. Impressionante como uma sociedade que faz da carnificina algo estilizado, tem tanto pudor na hora de mostrar uma cena de trepação. Mas, enfim, nenhum filme é perfeito. O filme não vai às últimas consequências do que propõe. Só que, de qualquer maneira, nenhum vai.
No entanto, tudo mais é preparado para você esperar por algo e ver acontecer o oposto: as mulheres gostosas perdem as pernas, os dentes e a honra; as crianças morrem e não há herói vivo no final - ainda que tenha uma vaga idéia de redenção que causa mal-estar (quase como o final do Planeta dos Macacos).
E o filme trabalha com uma idéia de anti-clímax que me agradou demais. Como na parte em que o Rodriguez
brinca com a estética anos 70 exploitation, da fase mais trash de Russ Meier - exibido em um cinema mofado em que você está sujeito a sair se coçando no final. Uma hora, extremamente emocionante, em que os personagens em conflito parecem que vão finalmente se enfrentar, nas horas mais impróprias, mas ao mesmo tempo esperadas (como se você não tivesse problemas suficientes ao fugir de uma horda de zumbis para arrumar discussão com aquela pessoa que por conveniência se juntou ao seu grupo de sobreviventes em fuga que morrem um por um e que quer ficar no abrigo enquanto você quer convencer a besta que é melhor se arriscar a tentar chegar no caminhão estacionado do lado de fora e sair cantando pneu e amassando mortos-vivos antes que venham ainda mais deles e escapar fique impossível ou que se desespere e atrapalhe o plano que ia bem ao sair correndo e deixando a porta aberta), a película estraga e você perde toda a ação, por alguns minutos, só para ver o absurdo da sequência de acontecimentos e encontrar os personagens em situações completamente diferentes da qual você os viu da última vez. Recurso foi muito bem bolado. Forma fazendo parte da narrativa.
Eu recomendo. Mas você se não gostar, não vou ficar surpreso.