É, os candidatos do partido 13 me decepcionam cada vez mais. Agora até no debate.
E anuncio: voto no C. Não acho que a aura de "candidato da idéia fixa" seja verdadeira, ainda que pareça às vezes. Já não sei mais se me iludo de novo, mas ainda quero acreditar que alguém seja bem-intencionado e capaz.
Engraçado que esse reino da "política boa" parece ter se confundido com o passado e com o além. Seja a H H falando do pai, seja do A falando do Covas, ou o C falando do Darcy e do Brizola, parece que o exemplo de integridade remete ao reino dos que já foram dessa para melhor...
Mudando de assunto... e a Bruna Surfistinha com o Fernando "Hic" Vanucci?! O engraçado foi o cara tentar minimizar o vexame que correu o u-tube e tentar "falar a linguagem do jovem"... hehehe
sexta-feira, setembro 29, 2006
terça-feira, setembro 26, 2006
Virtual world
O que mais recebo em minha caixa postal (a virtual, porque a de verdade só recebe conta) é spam. Basicamente relacionado a performance sexual (viagra, penis enlargement, tips on how to do well in bed...), ou então informando que meus dados cadastrais - seja lá quais forem - em algum lugar, devem ser updatados.
Mas são vários os tipos de mensagens. De vez em quando eu recebo propaganda de restaurante ou de alguma festa (tenho um amigo promoter que deve dar 365 festas por ano! Toda hora chega algum convite!).
Alguns colegas acadêmicos mandam também editais de concursos para algum cargo num lugar geralmente bem longe (esse tipo de mail está aumentando, como está aumentando também seu apelo para mim).
Recebo mails de alguns grupos de discussão - que já foram notificados que eu não desejo mais receber mensagens, mas que preferem me ignorar.
Algumas vezes recebo correntes ("passe em 1 dia para 10 pessoas que você será a pessoa mais feliz do mundo; não repasse e sofra as consequências de sua descrença, seu miserável quebrador de corrente", ou então "passe para 10 pessoas que você ama, se você não receber de volta você sabe quem são seus verdadeiros amigos"), mas essas já foram mais atuantes um tempo atrás. Ainda bem.
Alguns amigos mandam piadas e charges engraçadinhas. Outros, mais politizados, mandam "a verdade por trás do governo X ou Y"; "porque é preciso votar no fulano e não no beltrano ou no ciclano ladrões". Outros mandam a boa e velha pornografia básica - tenho até uma amiga que me mandava coisas realmente hardcore, o tipo de perversão que não excita mais e vira apenas uma curiosidade antropológica: "nossa, não sabia que isso era possível!", "existe isso mesmo?", "putz, tem que ser fotoshop!", "como isso entrou ali?", e coisas do tipo.
O orkut costumava avisar que alguém havia deixado um recado, mas há semanas que isso não acontece, não sei porque.
O site do xadrez online me avisa quando alguém fez uma jogada. Geralmente alguma que vai me fazer dizer "putz, como não vi que isso poderia acontecer?!"
A Amazon, uma das mais sacanas, sabe de alguma maneira que tipo de coisa me interessa e manda propaganda de livros afins. Buy these 2 books and receive a gift certificate! Extra! Extra! Read all about it!
E no meio disso tudo, ainda bem que aparecem umas mensagens realmente endereçadas a mim, ao sujeito eu e não minha conta virtual. Mensagens contando coisas do cotidiano, ou simplesmente perguntando como está tudo e quais são as novidades. E então eu fico feliz.
Mas são vários os tipos de mensagens. De vez em quando eu recebo propaganda de restaurante ou de alguma festa (tenho um amigo promoter que deve dar 365 festas por ano! Toda hora chega algum convite!).
Alguns colegas acadêmicos mandam também editais de concursos para algum cargo num lugar geralmente bem longe (esse tipo de mail está aumentando, como está aumentando também seu apelo para mim).
Recebo mails de alguns grupos de discussão - que já foram notificados que eu não desejo mais receber mensagens, mas que preferem me ignorar.
Algumas vezes recebo correntes ("passe em 1 dia para 10 pessoas que você será a pessoa mais feliz do mundo; não repasse e sofra as consequências de sua descrença, seu miserável quebrador de corrente", ou então "passe para 10 pessoas que você ama, se você não receber de volta você sabe quem são seus verdadeiros amigos"), mas essas já foram mais atuantes um tempo atrás. Ainda bem.
Alguns amigos mandam piadas e charges engraçadinhas. Outros, mais politizados, mandam "a verdade por trás do governo X ou Y"; "porque é preciso votar no fulano e não no beltrano ou no ciclano ladrões". Outros mandam a boa e velha pornografia básica - tenho até uma amiga que me mandava coisas realmente hardcore, o tipo de perversão que não excita mais e vira apenas uma curiosidade antropológica: "nossa, não sabia que isso era possível!", "existe isso mesmo?", "putz, tem que ser fotoshop!", "como isso entrou ali?", e coisas do tipo.
O orkut costumava avisar que alguém havia deixado um recado, mas há semanas que isso não acontece, não sei porque.
O site do xadrez online me avisa quando alguém fez uma jogada. Geralmente alguma que vai me fazer dizer "putz, como não vi que isso poderia acontecer?!"
A Amazon, uma das mais sacanas, sabe de alguma maneira que tipo de coisa me interessa e manda propaganda de livros afins. Buy these 2 books and receive a gift certificate! Extra! Extra! Read all about it!
E no meio disso tudo, ainda bem que aparecem umas mensagens realmente endereçadas a mim, ao sujeito eu e não minha conta virtual. Mensagens contando coisas do cotidiano, ou simplesmente perguntando como está tudo e quais são as novidades. E então eu fico feliz.
domingo, setembro 24, 2006
For a fistful of dollars
É, ser mainstream não é para qualquer um. É quando as pessoas começam a fazer sucesso que vemos do que realmente são feitas. São fagocitadas pela lama sem rosto da mesmice feita por todos (hahahaha), ou continuam falando algo de interessante. Ou talvez as pessoas simplesmente cansam. Ou melhor, me canso das pessoas. Sei lá.
Ou melhor, não. Acho que não é isso, não posso me permitir achar isso. Ainda acredito que eu me ligo com as pessoas que são interessantes. Decididamente há muitas pessoas que não me cansam. Mas algumas sim. Decididamente (me entiendes?)
Não sei se quem lê este blog fica reparando nas - poucas - alterações que coloco no side bar. Aqui do lado esquerdo, em que ponho links e em que, teoricamente, coloco algumas coisinhas de ler e ouvir que acho interessantes (só que tenho muita preguiça de fazer qualquer update) - recurso, aliás, copiado do blog do James.
Enfim, se alguém repara, saberá que havia links para o Kibe Loco e para o Lúcio Ribeiro. Mas quando as pessoas começam a ser uma paródia de si mesmos, ou se vendem quando fazem sucesso... O que aliás, é uma besteira, pois perdem o público que antes gostava do que faziam. Claro, ganham outros modelos de tietagem, mas enfim... há tempos que eu já comecei a achar ambos pedantes demais. Sabe quando o que deveria ser alternativo ou cool, vira o oposto? Às vezes é difícil perceber a mudança, até que ela já seja absurda... Sucesso sobe à cabeça? Pode ser...
E nem é que eu sou daqueles conservadores que não quer que nada mude (mas sim, achei que o Metallica foi pro brejo desde a morte do Cliff), ou que tudo dos anos 80 é maravilhoso (ainda que o ache) e "pobre coitado de você que não cresceu na década perdida e não sabe o que é um girocóptero ou quem foi Falcon" (ainda que um g i joe seja muito melhor que... bom sei lá que bonecos as crianças têm hoje em dia - ah, a ditadura da subcultura... it's ok to talk about trash culture, quanto mais, mais descolado). É só que quando você muda tudo sem, digamos, uma razão que não seja porque isso fazia sentido e sim porque você entrará no mainstream se o fizer... bom, aí a coisa não me agrada mesmo.
E não me entenda mal, não reclamo da moda por ser moda, do status quo por ser status quo (ainda que geralmente pareça isso), nem acho que tenho dor de cotovelo também. Gosto de muita coisa pop - no sentido mais agudo do termo. No fundo acho que é o seguinte: o que era bom e ficou ruim me irrita profundamente, pior se isso aconteceu para que "isso" ficasse mais palatável.
Em vez de promover esses "vendidos", deixo só o site do meu amigo Gazela. E de outros amigos, assim que tiverem sites. Pronto.
Só mais uma coisa: aproveito e dou meu polegar-para-cima-com-sorriso-de-Gato-Risonho-da-Alice na recomendação da banda do meu buddy André, Soul na Goela! Já sabia que eles eram muito bons, mas num show em que as pessoas realmente tenham lugar pra pular... demais! Aliás, muito bom ter festas boas na unicamp de novo! Na falta de uma, foram três! Me senti na época da graduação, encontrando tantos amigos na multidão, bêbados e chapados, alegres e entusiasmados! Quem estuda hoje na unicamp nem sabia que existiam festas maravilhosas no bosque (ou o que restou dele) da economia... isso sim é triste.
Ou melhor, não. Acho que não é isso, não posso me permitir achar isso. Ainda acredito que eu me ligo com as pessoas que são interessantes. Decididamente há muitas pessoas que não me cansam. Mas algumas sim. Decididamente (me entiendes?)
Não sei se quem lê este blog fica reparando nas - poucas - alterações que coloco no side bar. Aqui do lado esquerdo, em que ponho links e em que, teoricamente, coloco algumas coisinhas de ler e ouvir que acho interessantes (só que tenho muita preguiça de fazer qualquer update) - recurso, aliás, copiado do blog do James.
Enfim, se alguém repara, saberá que havia links para o Kibe Loco e para o Lúcio Ribeiro. Mas quando as pessoas começam a ser uma paródia de si mesmos, ou se vendem quando fazem sucesso... O que aliás, é uma besteira, pois perdem o público que antes gostava do que faziam. Claro, ganham outros modelos de tietagem, mas enfim... há tempos que eu já comecei a achar ambos pedantes demais. Sabe quando o que deveria ser alternativo ou cool, vira o oposto? Às vezes é difícil perceber a mudança, até que ela já seja absurda... Sucesso sobe à cabeça? Pode ser...
E nem é que eu sou daqueles conservadores que não quer que nada mude (mas sim, achei que o Metallica foi pro brejo desde a morte do Cliff), ou que tudo dos anos 80 é maravilhoso (ainda que o ache) e "pobre coitado de você que não cresceu na década perdida e não sabe o que é um girocóptero ou quem foi Falcon" (ainda que um g i joe seja muito melhor que... bom sei lá que bonecos as crianças têm hoje em dia - ah, a ditadura da subcultura... it's ok to talk about trash culture, quanto mais, mais descolado). É só que quando você muda tudo sem, digamos, uma razão que não seja porque isso fazia sentido e sim porque você entrará no mainstream se o fizer... bom, aí a coisa não me agrada mesmo.
E não me entenda mal, não reclamo da moda por ser moda, do status quo por ser status quo (ainda que geralmente pareça isso), nem acho que tenho dor de cotovelo também. Gosto de muita coisa pop - no sentido mais agudo do termo. No fundo acho que é o seguinte: o que era bom e ficou ruim me irrita profundamente, pior se isso aconteceu para que "isso" ficasse mais palatável.
Em vez de promover esses "vendidos", deixo só o site do meu amigo Gazela. E de outros amigos, assim que tiverem sites. Pronto.
Só mais uma coisa: aproveito e dou meu polegar-para-cima-com-sorriso-de-Gato-Risonho-da-Alice na recomendação da banda do meu buddy André, Soul na Goela! Já sabia que eles eram muito bons, mas num show em que as pessoas realmente tenham lugar pra pular... demais! Aliás, muito bom ter festas boas na unicamp de novo! Na falta de uma, foram três! Me senti na época da graduação, encontrando tantos amigos na multidão, bêbados e chapados, alegres e entusiasmados! Quem estuda hoje na unicamp nem sabia que existiam festas maravilhosas no bosque (ou o que restou dele) da economia... isso sim é triste.
terça-feira, setembro 19, 2006
Você conhece a Célia Leão?
E essa agora, recebi um spam telefônico!! Já não há para onde fugir...
Estava fechando a porta de casa, meio atrasado para sair, ouço o telefone tocar. Corro para atender, vem a voz gravada "Você conhece a Célia Leão..." Sim, aquela pessoa tão simpática e locomotoramente desprivilegiada.
Vai pra puta que o pariu Célia Leão! Você não ia receber meu voto, mas agora faço propaganda contra!
*******
Parênteses: Alguém mais percebeu que o final de semana que passou foi estranhíssimo? Clima bizarro, aquele que qualquer coisa pode acontecer. Deu até medo...
Estava fechando a porta de casa, meio atrasado para sair, ouço o telefone tocar. Corro para atender, vem a voz gravada "Você conhece a Célia Leão..." Sim, aquela pessoa tão simpática e locomotoramente desprivilegiada.
Vai pra puta que o pariu Célia Leão! Você não ia receber meu voto, mas agora faço propaganda contra!
*******
Parênteses: Alguém mais percebeu que o final de semana que passou foi estranhíssimo? Clima bizarro, aquele que qualquer coisa pode acontecer. Deu até medo...
domingo, setembro 10, 2006
Un peu de joie
Raimundo Madrazo - Retrato de Aline Masson (1910)
Eu gosto muito dessa arte burguesa, principalmente francesa, da belle époque. Tudo muito ingênuo, às vezes cruel (paralelos interessantes com algumas atualidades são inevitáveis), mas sempre confiante, uma quase soberba que ainda não conhecia uma guerra mundial.
Os desenhos das exposições universais, por exemplo, são magistrais. O art nouveau, o impressionismo, a nova arquitetura, o nascimento do design, um "realismo não real" da técnica que brincava com o olhar, mas que já conhecia o cinema e a fotografia - tudo isso criou algo realmente único, com técnicas novas, materiais novos; algo essencialmente e finalmente, moderno.
Mencionei os pôsteres das exposições universais. Mas as propagandas de produtos, os painéis, os cartazes de lojas, roupas e calendários, os selos, os estudos de fontes e logotipos, são o que de melhor existe em design e arts and crafts - até hoje, para mim. O próprio Klimt, Toulouse-Lautrec, Mucha, Beardsley, um Eliseu Visconti (esse conterrâneo dos Tambascia da Campana) no Brasil - todos fizeram algo inspirado, mas ao mesmo tempo mais livre, da pintura (o tal do decorativo) que me agrada muito.
Em fevereiro do presente deleitei-me, sem cansar, com Gaudí - esse sim genial. Em Madrid, em intenso tour artístico, vários Klimts, Toulouse-Lautrecs e cia. Esse quadro acima, Aline Masson, vi em uma exposição temporária no Prado. A tal exposição era em homenagem a Ramón de Errazu, um desses mecenas endinheirados que estão tão intimamente relacionados ao que consideramos um pintor bom ou de sucesso. Algumas pinturas de alguns artistas espanhóis e franceses protegidos, foram doadas havia 100 anos pelo tal Errazu ao Prado. Por isso o evento. Dentre as maravilhas expostas, destaco este quadro, de Raimundo Madrazo y Garreta.
Quem foi ao Prado sabe que aquilo é de enlouquecer. É tanta informação visual realmente magistral que chega uma hora que passamos o olhar por um Botticelli e pensamos "ah, um Botticelli" e passamos para o quadro ao lado.
Alguns quadros, entretanto, mereceram maior contemplação. Não sei exatamente porque, mas assim foi... um deles foi "As meninas" de Velasquez - esse quadro tão pós-moderno em uma época que esse tipo de meta-reflexividade não existia (e que mereceu dezenas de versões-estudo de Picasso, também visitadas por mim e Dani em Barcelona).
Outro foi "O jardim das delícias" de Bosch, esse quadro tão hermético e tão impressionante (um Dan Brown da vida teria muito material para fazer uma história de conspiração e de significados ocultos em torno do quadro).
Outro quadro, de um artista igualmente associado a um hermetismo clássico, Poussin, foi "Parnasus". Pra mim Poussin sempre foi um mistério delicioso. Adorei quando Lévi-Strauss se aventurou na crítica artística com Poussin; fiquei anos fascinado com a aventura templária que começou com aqueles historiadores ingleses que, acredito, viajaram um pouco com o "Et in Arcadio Ego"; e mesmo Panosfky escreveu um brilhante ensaio sobre as interpretações deste famoso quadro (e seus diversos primos). Não creio que "Parnasus" tenha tanta controvérsia latente como acontece com "Arcadia", mas mesmo assim é muito impressionante.
Enfim, poderia falar horas sobre o que vi. A sessão do Renascimento é absolutamente mágica. O porão de estátuas e bustos, assombroso. Mesmo o estranho e gigantesco cofre com dezenas de relicários é lindíssimo. Mas de tudo isso, foi desse artista relativamente desconhecido, Madrazo, retratista competentíssimo e que fez carreira nos círculos burgueses europeus, de família de pintores espanhóis respeitadíssimos, nascido em Roma em 1841, mas tornado artista em Paris, que mais me lembro.
Aline Masson, esposa de Madrazo, foi a modelo deste quadro. Fiquei absolutamente hipnotizado quando vi. Já estava há várias horas andando, estava cansado e com fome, os olhos ardiam de tanta pintura, e mesmo assim fiquei muito tempo só olhando para os detalhes da pintura: os olhos um pouco cerrados, a brancura da tez, a roupa luxuosa, o chapéu, as flores, a boca num sorriso perturbador, o ar blasé, a despreocupação com o mundo... mas principalmente o nariz - nada clássico, mas de uma quase-vulgaridade sensualíssima. Tudo dando impressão de uma fotografia borrada - tão realista, mas tão impressionista. Ou então de uma fotografia pintada, algo que outro artista / designer, Dave McKean, fez décadas depois, de maneira completamente diferente.
Eu gosto muito dessa arte burguesa, principalmente francesa, da belle époque. Tudo muito ingênuo, às vezes cruel (paralelos interessantes com algumas atualidades são inevitáveis), mas sempre confiante, uma quase soberba que ainda não conhecia uma guerra mundial.
Os desenhos das exposições universais, por exemplo, são magistrais. O art nouveau, o impressionismo, a nova arquitetura, o nascimento do design, um "realismo não real" da técnica que brincava com o olhar, mas que já conhecia o cinema e a fotografia - tudo isso criou algo realmente único, com técnicas novas, materiais novos; algo essencialmente e finalmente, moderno.
Mencionei os pôsteres das exposições universais. Mas as propagandas de produtos, os painéis, os cartazes de lojas, roupas e calendários, os selos, os estudos de fontes e logotipos, são o que de melhor existe em design e arts and crafts - até hoje, para mim. O próprio Klimt, Toulouse-Lautrec, Mucha, Beardsley, um Eliseu Visconti (esse conterrâneo dos Tambascia da Campana) no Brasil - todos fizeram algo inspirado, mas ao mesmo tempo mais livre, da pintura (o tal do decorativo) que me agrada muito.
Em fevereiro do presente deleitei-me, sem cansar, com Gaudí - esse sim genial. Em Madrid, em intenso tour artístico, vários Klimts, Toulouse-Lautrecs e cia. Esse quadro acima, Aline Masson, vi em uma exposição temporária no Prado. A tal exposição era em homenagem a Ramón de Errazu, um desses mecenas endinheirados que estão tão intimamente relacionados ao que consideramos um pintor bom ou de sucesso. Algumas pinturas de alguns artistas espanhóis e franceses protegidos, foram doadas havia 100 anos pelo tal Errazu ao Prado. Por isso o evento. Dentre as maravilhas expostas, destaco este quadro, de Raimundo Madrazo y Garreta.
Quem foi ao Prado sabe que aquilo é de enlouquecer. É tanta informação visual realmente magistral que chega uma hora que passamos o olhar por um Botticelli e pensamos "ah, um Botticelli" e passamos para o quadro ao lado.
Alguns quadros, entretanto, mereceram maior contemplação. Não sei exatamente porque, mas assim foi... um deles foi "As meninas" de Velasquez - esse quadro tão pós-moderno em uma época que esse tipo de meta-reflexividade não existia (e que mereceu dezenas de versões-estudo de Picasso, também visitadas por mim e Dani em Barcelona).
Outro foi "O jardim das delícias" de Bosch, esse quadro tão hermético e tão impressionante (um Dan Brown da vida teria muito material para fazer uma história de conspiração e de significados ocultos em torno do quadro).
Outro quadro, de um artista igualmente associado a um hermetismo clássico, Poussin, foi "Parnasus". Pra mim Poussin sempre foi um mistério delicioso. Adorei quando Lévi-Strauss se aventurou na crítica artística com Poussin; fiquei anos fascinado com a aventura templária que começou com aqueles historiadores ingleses que, acredito, viajaram um pouco com o "Et in Arcadio Ego"; e mesmo Panosfky escreveu um brilhante ensaio sobre as interpretações deste famoso quadro (e seus diversos primos). Não creio que "Parnasus" tenha tanta controvérsia latente como acontece com "Arcadia", mas mesmo assim é muito impressionante.
Enfim, poderia falar horas sobre o que vi. A sessão do Renascimento é absolutamente mágica. O porão de estátuas e bustos, assombroso. Mesmo o estranho e gigantesco cofre com dezenas de relicários é lindíssimo. Mas de tudo isso, foi desse artista relativamente desconhecido, Madrazo, retratista competentíssimo e que fez carreira nos círculos burgueses europeus, de família de pintores espanhóis respeitadíssimos, nascido em Roma em 1841, mas tornado artista em Paris, que mais me lembro.
Aline Masson, esposa de Madrazo, foi a modelo deste quadro. Fiquei absolutamente hipnotizado quando vi. Já estava há várias horas andando, estava cansado e com fome, os olhos ardiam de tanta pintura, e mesmo assim fiquei muito tempo só olhando para os detalhes da pintura: os olhos um pouco cerrados, a brancura da tez, a roupa luxuosa, o chapéu, as flores, a boca num sorriso perturbador, o ar blasé, a despreocupação com o mundo... mas principalmente o nariz - nada clássico, mas de uma quase-vulgaridade sensualíssima. Tudo dando impressão de uma fotografia borrada - tão realista, mas tão impressionista. Ou então de uma fotografia pintada, algo que outro artista / designer, Dave McKean, fez décadas depois, de maneira completamente diferente.
sábado, setembro 09, 2006
Uma lembrança que tive
Escrevi no post anterior sobre a irmã de um amigo meu. Lembrei dela por causa de um sonho (que já esqueci) e, depois de ter escrito o post, comecei a relembrar várias outras memórias sobre ela, que estavam empoeiradas em algum canto no cérebro, largadas às traças e aranhas por tantos anos que o lembrar é de fato esquisito.
Uma querida foi quando tive minha primeira audição de piano.
Esse amigo meu, eu e outro amigo nosso resolvemos, todos praticamente na mesma época, aprender piano. Encorajávamos uns aos outros, trocávamos partituras e íamos tocar na casa um do outro.
Tínhamos a mesma professora de piano também. Depois de alguns meses de aula, era tempo de apresentar alguma música publicamente e resolvi que iria tocar Für Elise - Beethoven, no além, deve amaldiçoar com todas as forças os donos de distribuidoras de gás.
Meu amigo inglês, que estava mais no meu nível, também participou da mesma audição. Ele tocou algum noturno de Chopin e eu fiquei com a música que agora é o terror dos cachorros da vizinhança. Nossa audição foi em uma igreja mórmon, no Guanabara, em uma noite um tanto quanto fria, se não me engano. Acho que ainda tenho umas fotos dessa noite em algum álbum perdido em algum lugar.
A apresentação foi razoável. Depois eu viria a tocar melhor (em uma apresentação no colégio, depois de executar a mesma música, ganhei um abraço apertado e um beijo da minha primeira paixão, uma suíça maravilhosa e amiguíssima, já mencionada num post anterior, sobre uma ida ao playcenter), tendo praticado à exaustão (até hoje eu sei de cor a maior parte). Mas o legal foi que a Natasha havia ido à apresentação também - as famílias deste meu amigo e a minha, claro, compareceram.
Minha apresentação foi depois da do meu amigo e meu natural e eterno pânico dessas ocasiões públicas foi abrandado quando ela veio até mim, depois de haver congratulado seu irmão, e me disse que estava torcendo por mim. Só não fiquei olhando para ela enquanto tocava por dois motivos. Primeiro que minha professora insistia que eu lesse a partitura, mesmo tendo decorado tudo. E depois que havia tantas luzes no palco montado que eu não conseguiria ver a platéia de qualquer jeito.
A melhor recompensa pelo esforço não foram os primeiros aplausos dirigidos a mim, mas um parabéns comovido dela, seguido por um beijo estalado na bochecha.
Uma querida foi quando tive minha primeira audição de piano.
Esse amigo meu, eu e outro amigo nosso resolvemos, todos praticamente na mesma época, aprender piano. Encorajávamos uns aos outros, trocávamos partituras e íamos tocar na casa um do outro.
Tínhamos a mesma professora de piano também. Depois de alguns meses de aula, era tempo de apresentar alguma música publicamente e resolvi que iria tocar Für Elise - Beethoven, no além, deve amaldiçoar com todas as forças os donos de distribuidoras de gás.
Meu amigo inglês, que estava mais no meu nível, também participou da mesma audição. Ele tocou algum noturno de Chopin e eu fiquei com a música que agora é o terror dos cachorros da vizinhança. Nossa audição foi em uma igreja mórmon, no Guanabara, em uma noite um tanto quanto fria, se não me engano. Acho que ainda tenho umas fotos dessa noite em algum álbum perdido em algum lugar.
A apresentação foi razoável. Depois eu viria a tocar melhor (em uma apresentação no colégio, depois de executar a mesma música, ganhei um abraço apertado e um beijo da minha primeira paixão, uma suíça maravilhosa e amiguíssima, já mencionada num post anterior, sobre uma ida ao playcenter), tendo praticado à exaustão (até hoje eu sei de cor a maior parte). Mas o legal foi que a Natasha havia ido à apresentação também - as famílias deste meu amigo e a minha, claro, compareceram.
Minha apresentação foi depois da do meu amigo e meu natural e eterno pânico dessas ocasiões públicas foi abrandado quando ela veio até mim, depois de haver congratulado seu irmão, e me disse que estava torcendo por mim. Só não fiquei olhando para ela enquanto tocava por dois motivos. Primeiro que minha professora insistia que eu lesse a partitura, mesmo tendo decorado tudo. E depois que havia tantas luzes no palco montado que eu não conseguiria ver a platéia de qualquer jeito.
A melhor recompensa pelo esforço não foram os primeiros aplausos dirigidos a mim, mas um parabéns comovido dela, seguido por um beijo estalado na bochecha.
sexta-feira, setembro 08, 2006
Um sonho que tive
Esses dias eu sonhei com a irmã de um antigo amigo meu. Acho que ex-amigo, já que fiquei anos sem falar com ele. Foi morar na Inglaterra e depois na Suíça, acho. Foi fazer cinema (agora tenho outra amiga que faz cinema na terra da rainha). O encontrei alguns anos atrás, em uma festa junina na unicamp, mas o encontro foi frio e decepcionante.
Não sei exatamente o que me fez lembrar de sua irmã agora. Fazia muito tempo que nem pensava nessa moça. Quer dizer... moça... ela era a irmã mais velha desse meu amigo, então...
Enfim, eu tinha uma verdadeira paixão por ela. Sempre que ia na casa deste amigo, inglês nascido em Hong Kong e descendente de russos, procurava roubar um olhar, um oi, um simples vislumbre com o canto do olho.
Ela não era cruel, como são as irmãs mais velhas nos filmes de John Hughes. Bom, claro que um certo "vocês não são da minha turma" existia. Mas havia um carinho e um respeito por meu status de menino tímido-mas-bacana-e-divertido (e não apenas o amigo pirralho do irmão pentelho, invisível para ela) que só fazia aumentar essa minha paixão.
E ela era linda. Tinha o nome maravilhoso - Natasha, igual à heroína de Tolstói que tanto admirava (ainda que não tivesse nada a ver com a personagem original, ou mesmo com a Hepburn, que a imortalizou).
Anos 80. Essa era a época do permanente, do hair spray e do colant. Ela fazia ballet e jazz dance, tinha o cabelo loiro-castanho sempre armado e desfiado, e pilotava, soberba, imponente e dona da rua, uma vespa preta (desnecessário dizer que vespas eram o sonho de consumo dos meninos da minha geração. Vespas e, para os não tão favorecidos, mobilete, claro).
O rosto era lindíssimo. Olhos castanhos, nariz pequeno, boca suave e algumas sardinhas em torno do nariz. Tinha os peitos mais maravilhosos que um menino de minha idade podia conceber - e que não via paralelo, obviamente, pela idade, nas colegas do sexo oposto da escola.
Ainda não era época do silicone (que parece estar passando, não?!) e um dia ela resolveu fazer uma cirurgia de redução - coisa que achei um sacrilégio, mas que me permitiu alimentar ainda mais adoração: no dia em que voltou do hospital, eu estava brincando de playmobil com esse meu amigo. Fomos para seu quarto dar as boas-vindas. Ela me deixou entrar e ficar no quarto! Eu nem acreditava, sorvia todos os detalhes, os pôsters do Motley Crue e os bichinhos de pelúcia, a caixinha de marlboro vermelho na escrivaninha e as roupas que havia vestido, em cima da cama. Conversamos e ela contava como havia sido a operação. Isso pra mim foi quase uma experiência sexual e lembro nitidamente ainda hoje (quanto, 20 anos depois?!).
Ela tinha vários namorados, claro. Todos seriam os quarterbacks da escola, se no Brasil jogássemos o outro tipo de futebol - eram os mais populares, os que já dirigiam, os que fumavam... eu, infelizmente, mal tinha uma bicicleta que prestasse. Ah, a inveja que sentia...
A vi, muitos anos depois e muitos anos atrás, no shopping, ainda linda. Já não tinha o excesso dos anos 80 nela. Nada das roupas pakalolo ou OP, nada da maquiagem carregada, casado de pele de carneiro aveludado e elástico de cabelo wagon num roxo opressor. Talvez estivesse casada, com filhos. Ela estava com essa cara, não sei. Tive uma vontade tremenda de chamá-la, mas não tive coragem. Acho que ela faz um bem enorme para mim em sua perfeição de Natasha da minha memória, nobre oprimida pelo exército napoleônico invasor, mas de espírito muito maior que o corpo.
Não sei exatamente o que me fez lembrar de sua irmã agora. Fazia muito tempo que nem pensava nessa moça. Quer dizer... moça... ela era a irmã mais velha desse meu amigo, então...
Enfim, eu tinha uma verdadeira paixão por ela. Sempre que ia na casa deste amigo, inglês nascido em Hong Kong e descendente de russos, procurava roubar um olhar, um oi, um simples vislumbre com o canto do olho.
Ela não era cruel, como são as irmãs mais velhas nos filmes de John Hughes. Bom, claro que um certo "vocês não são da minha turma" existia. Mas havia um carinho e um respeito por meu status de menino tímido-mas-bacana-e-divertido (e não apenas o amigo pirralho do irmão pentelho, invisível para ela) que só fazia aumentar essa minha paixão.
E ela era linda. Tinha o nome maravilhoso - Natasha, igual à heroína de Tolstói que tanto admirava (ainda que não tivesse nada a ver com a personagem original, ou mesmo com a Hepburn, que a imortalizou).
Anos 80. Essa era a época do permanente, do hair spray e do colant. Ela fazia ballet e jazz dance, tinha o cabelo loiro-castanho sempre armado e desfiado, e pilotava, soberba, imponente e dona da rua, uma vespa preta (desnecessário dizer que vespas eram o sonho de consumo dos meninos da minha geração. Vespas e, para os não tão favorecidos, mobilete, claro).
O rosto era lindíssimo. Olhos castanhos, nariz pequeno, boca suave e algumas sardinhas em torno do nariz. Tinha os peitos mais maravilhosos que um menino de minha idade podia conceber - e que não via paralelo, obviamente, pela idade, nas colegas do sexo oposto da escola.
Ainda não era época do silicone (que parece estar passando, não?!) e um dia ela resolveu fazer uma cirurgia de redução - coisa que achei um sacrilégio, mas que me permitiu alimentar ainda mais adoração: no dia em que voltou do hospital, eu estava brincando de playmobil com esse meu amigo. Fomos para seu quarto dar as boas-vindas. Ela me deixou entrar e ficar no quarto! Eu nem acreditava, sorvia todos os detalhes, os pôsters do Motley Crue e os bichinhos de pelúcia, a caixinha de marlboro vermelho na escrivaninha e as roupas que havia vestido, em cima da cama. Conversamos e ela contava como havia sido a operação. Isso pra mim foi quase uma experiência sexual e lembro nitidamente ainda hoje (quanto, 20 anos depois?!).
Ela tinha vários namorados, claro. Todos seriam os quarterbacks da escola, se no Brasil jogássemos o outro tipo de futebol - eram os mais populares, os que já dirigiam, os que fumavam... eu, infelizmente, mal tinha uma bicicleta que prestasse. Ah, a inveja que sentia...
A vi, muitos anos depois e muitos anos atrás, no shopping, ainda linda. Já não tinha o excesso dos anos 80 nela. Nada das roupas pakalolo ou OP, nada da maquiagem carregada, casado de pele de carneiro aveludado e elástico de cabelo wagon num roxo opressor. Talvez estivesse casada, com filhos. Ela estava com essa cara, não sei. Tive uma vontade tremenda de chamá-la, mas não tive coragem. Acho que ela faz um bem enorme para mim em sua perfeição de Natasha da minha memória, nobre oprimida pelo exército napoleônico invasor, mas de espírito muito maior que o corpo.
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